segunda-feira, 29 de junho de 2015

20150629 Deus para Hegel

Deus para Hegel









As atividades religiosas


A estética hegeliana é uma filosofia da Arte. A análise da Religião se coloca na mesma ótica. Como a Arte, a Religião é da ordem do em si para si. Mais precisamente até, como nos adverte a 
Fenomenologia do espírito, a atividade religiosa é a do Espírito em si pra si apreendendo-se em sua imediatidade. As Lições sobre a filosofia da religião — como a Estética — definem, ao mesmo
tempo, o universal, a essência e as manifestações particulares que são sua realização progressiva e dramática. Há uma essência da Religião que tem seu status na ordem do Espirito e cujos momentos
de constituição interna podem ser reencontrados a cada nível de seu desenvolvimento. Mas essa essência só se realiza e se compreende em relação com o devir do próprio Espírito na multiplicidade de suas determinações.


Assim, a Religião, na sua generalidade, deve ser apreendida quer como momento do Espírito, quer nas suas manifestações particulares, como expressão da cultura que, aos poucos, chega à compreensão de si mesma A religião grega, por exemplo, ocupa seu verdadeiro lugar na Ciência apenas na medida em que é discernida, ao mesmo tempo, como uma etapa (na qual devia permanecer e que devia superar, em breve, a atividade religiosa como tal, em seu empreendimento de construção de si) e como manifestação do Espírito (quando se encontrava na Grécia e no mesmo momento estava presente em Fidias, Sófocles, Tucidides e em Sócrates). O que estudaremos no capítulo final, como sendo o empirismo hegeliano, atinge aqui — assim como nas Lições sobre a história da filosofia, que não teremos a ocasião de retomar - sua apresentação mais elevada e sutil.


A Religião é da ordem do Espírito: não é dele o exterior, o contingente, o excedente, e menos ainda a superação ou a verdade.


Nem o Aufklarung (Iluminismo); que quis substituir a tradição por uma "teologia natural", fundada muna análise racional do conceito do Ser infinito, nem o sentimentalismo religioso, consolidando-se na paixão desenvolvida pela consciência de si quando percebe sua finitude e aspira ao além, permitem compreender o fato religioso. Um e outro, aliás, provam sua carência, pois continuam discutindo, com argumentos e golpes de força, aquilo mesmo que está no fundamento da religião: a existência de Deus.


Não há por que rejeitar as provas da existência de Deus: a esse respeito, a demonstração kantiana recorreu ao trabalho abstrato do entendimento. Para o Espírito, quando está na imediatidade do em
si e para si, Deus existe. O Espirito então se pensa ele mesmo e a consciência de si que se pensa nele experimenta sua infinita liberdade. Foi isso que Descartes estabeleceu com a maior clareza.
A critica de Kant não alcança seu objetivo: indica apenas a incapacidade do pensamento analítico de apreender a adequação necessária que se estabelece entre o Ser e o Pensamento. A Crítica
da razão pura é, no fundo, apenas a negação abstrata da metafisica tradicional: não vê que é, exatamente, o argumento dito ontológico que temos de aceitar se quisermos dar ao projeto filosófico toda a sua significação.


O pressuposto de toda filosofia da Religião é que Deus existe.


Argumentar sobre isso é irrisório. E recusar o fato das religiões o é mais ainda. Resta mostrar como, através destas últimas, a concepção de Deus se precisa e se institui. Somente analisando-a
poderemos pôr a Religião e as religiões no lugar que convém à essência daquela e ás particularidades destas.


Assim como o Belo é o objeto da Arte, Deus é o objeto da Religião. Deus é "o absolutamente incondicionado, bastando-se a si mesmo, existindo por si mesmo, o começo e o fim derradeiro absolutos em 
si e para si''. Quanto à religião, "ela representa o espírito absoluto não apenas pela intuição e pela representação, mas também pelo pensamento e pelo conhecimento. Sua destinação capital é elevar o indivíduo ao pensamento de Deus, provocar sua união com Ele e assegurá-lo dessa unidade". Essas definições, porém, são demasiado gerais. Determinam a função da religião que é para todos os homens: não é a filosofia, que não é para todas os homens. A religião é a maneira pela qual todos os homens se conscientizam da verdade, e alcançamos isso pelo sentimento, pela representação
e pelo pensamento racional. A noção de religião deve ser considerada em relação a essa maneira geral pela qual a verdade chega ao homem.


Para chegar-se ã essência da Religião, ao mesmo tempo, repitâmo-lo, como domínio especifico e como manifestação do Espírito em geral numa determinada época, no seio de uma determinada comunidade, é preciso seguir o movimento de seu devir; da mesma maneira, para saber o que significa esse conceito: Deus, convém compreender os diversos avatares de Deus até o momento em que ele é o que se tomou, isto é, o para si do Ser em si e para si.


A história hegeliana da Religião, como a história da Arte, é pois simultaneamente a análise dialética de um conceito e uma filosofia da História parcial estudando os diferentes momentos do devir do homem através de suas "ideologias religiosas" sucessivas.


Esse segundo aspecto é enfatizado pela Fenomenologia do espírito.


A consciência não "espera" — no desenvolvimento ao mesmo tempo lógico e histórico do texto — que o Espírito se conheça como Religião para ser religiosa. A exigência da demonstração leva Hegel a descrever, por várias vezes, em função de qual dialética, aqui ou ali, a consciência (tomada individual e abstratamente) exige a representação do Absoluto em si e para si, nele se reconhece
e se perde. Mas isso ainda não é a religião: esta só é pensável e vivível em função do Espírito, isto é, da consciência (apreendida em sua individualidade abstrata) superada, em função da comunidade.


Arte e Religião são as manifestações do Espírito enquanto caminha silenciosamente pelas sociedades e constitui sua unidade secreta.


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Deus. o espírito e a religião segundo Hegel.

O texto é mais amplo prossegue na discussão, mas esse trecho traz um todo capaz de se fechar.

Esse trecho foi um petardo nas minhas convicções de ateu. Me emocionou.

A emoção me chama para um lado, mas ao ver as atrocidades do mundo, as atrocidades sofridas, até onde pode o homem chegar em sua baixeza.

Deus não pode efetivamente existir. Não permitiria essa coisa que por aí anda. Em seu nome que fazem?

As religiões a quem servem? Os religiosos de todas as instituições, mesmo as que se dizem laicas, que fazem?

Não, efetivamente  não.


Paulo Cesar Fernandes

29/06/2015

domingo, 28 de junho de 2015

20150628 Arte Religião e Filosofia - Pontos em comum

Francois Chatelet 

Hegel


A mais elevada destinação da Arte é a que ela tem em comum com a Religião e a Filosofia. Como estas, ela é um modo de expressão do divino, das necessidades e exigências mais profundas do espírito. 


Já dissemos mais elevada; os povos depositaram na arte suas idéias mais elevadas, e ela constitui muitas vezes para nós o único meio de compreender a religião de um povo. Mas ela difere da Religião e da Filosofia pelo fato de possuir o poder de dar uma representação sensível dessas idéias elevadas que as torna acessíveis a nós. O pensamento penetra nas profundezas de um mundo suprassensível a que se opõe como um além da consciência imediata e da sensação direta; busca com toda liberdade satisfazer sua necessidade de conhecer, elevando-se acima do aquém, representado pela realidade finita. Mas essa ruptura, realizada pelo espírito, é seguida de uma conciliação, obra igualmente do espírito; ele cria por si mesmo as obras de belas-artes que constituem o primeiro elo intermediário destinado a reatar o exterior, o sensível e o perecível ao pensamento puro, a conciliar a natureza e a realidade finita com a liberdade infinita do pensamento abrangente.

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A Arte tem algo em comum com a Religião e a Filosofia segundo HEGEL. Ela também penetra no suprassensível ou metafísico; ou ainda no inconsciente trazido à luz por Freud e trabalhado por seus 
seguidores dentre os quais Carl Gustav Jung. Tanto Jung como o cientista Gustave Geley  advogam a tese que os elementos da Arte estariam no inconsciente.


Jung vai mais longe quando admite a possibilidade da Arte trazer elementos do Inconsciente Coletivo. Explicando: assim como nossos corpos trazem toda a carga de sua filogênese, desde as espécies mais simples; o nosso inconsciente pode carregar elementos das mais antigas civilizações terrenas. Expressas todas através de arquétipos das mais diversas civilizações.


Dessa forma um pintor, um músico, um poeta pode trazer de seu inconsciente elementos ancestrais, completamente desconectados com sua atual e presente existência, e com sua atual e presente 
racionalidade.


Os momentos de êxtase criativo proporcionam a ruptura com a Racionalidade Ocidental e a imersão nesse outro contingente de informações. Quando Hegel nos fala do suprassensível é nisso que se refere em última instância.


Uma obra de arte, ao expressar uma universalidade proeminente tende a mostrar exatamente isso. Traduz elementos arquetípicos das diversas etnias espalhadas pelos cinco continentes.


Sei que é algo complexo. Não pelo Hegel mas pela minha impossibilidade em traduzir mais simplesmente os pensamentos expostos pelo nosso Hegel.


Paulo Cesar Fernandes

28/06/2015

sexta-feira, 26 de junho de 2015

20150626 Esquema de Kojeve sobre Hegel

Alexandre Kojéve é um dos grandes comentadores de Hegel. 

É referência inclusive para Francois Chatelet cujo livro "Hegel" venho estudando.

Em seu livro, Chatelet traz o esquema de Kojéve para a compreensão dos níveis de apreensão da própria realidade na jornada do espírito.


São elementos concêntricos que, à medica que se aproximam do centro, mais se torna clara a visão do espírito de si mesmo. E, de fora para dentro temos as diversas perspectivas, diferentes concepções até chegar ao âmago: o espirito como Ser-em-si; Ser-para-si e dotado do Saber Absoluto.


Essa é a compreensão minha das leituras feitas, e pode não corresponder ao estabelecido por HEGEL.







No círculo imediatamente anterior ao âmago do sistema podemos ver o pensamento de Kant, do qual Hegel não era um contraditor, mas cujo pensamento lhe valia para suas reflexões. 

Kant é um mistério não desvendado ainda por mim. Chatelet se referencia muito a ele, mas isso não me é suficiente. O livro de Luc Ferry sobre as três críticas, a ser mais tarde desvendado deverá me ajudar nessa compreensão.


Paulo Cesar Fernandes

26/06/2015